Lipedema: o que é? Dieta anti-inflamatória, exercícios e cirurgia podem melhorar a qualidade de vida.

Você já ouviu falar da Lipedema? Reconhecida como parte da Classificação Internacional de Doenças (CID) somente em 2022, a lipedema é uma doença vascular crônica, com causas genéticas, que afeta essencialmente mulheres e é caracterizada por acúmulo anormal de gordura e inchaço.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a doença atinge cerca de 12% das mulheres brasileiras. Uma delas é Yasmin Brunet. Depois de revelar sofrer com a doença durante sua participação no BBB 24, a modelo voltou a falar sobre o assunto nesta quarta-feira (24), no Encontro com Patrícia Poeta.


Yasmin Brunet é diagnosticada com lipedema: doença crônica afeta 12% das mulheres.

Antes de saber mais detalhes sobre a cirurgia e como ela pode impactar na qualidade de vida das pacientes diagnosticadas com lipedema, entenda o que é a doença e quais são os sintomas.

O que é o lipedema e como é possível diagnosticar a doença.

O lipedema é uma doença inflamatória crônica que se caracteriza pelo acúmulo desproporcional de gordura nas pernas - “mesmo quando são magras” - e que não responde à dieta ou à atividade física, conforme explica o cirurgião vascular Leonardo Stambowsky, Membro titular da SBACV e da Sociedade Americana de Cirurgia Vascular.


“Uma característica importante para o diagnóstico diferencial é que, diferentemente de outras causas de inchaço, o lipedema poupa o pé. Essa é uma doença que afeta cerca de uma a cada dez mulheres. Acredita-se que a razão seja por influência hormonal e genética”, afirma ele.


O ginecologista Fabiano Serra acrescenta que é uma doença do tecido adiposo: “É uma gordura doente que tem traves de tecido fibroso, que seriam cicatrizes por conta de um processo inflamatório contínuo.”


Segundo os especialistas, o diagnóstico pode ser feito através de um exame clínico, apesar de haver exames complementares para a confirmação. “Uma consulta com um médico que conheça da doença vai ser suficiente para identificar”, aponta o ginecologista, listando alguns sinais e sintomas comuns:


  • Além da desproporção desses membros inferiores;
  • A possibilidade de formar pequenos hematomas nas pernas;
  • Sensação de cansaço e peso nas pernas;
  • Sensação de dor ao toque devido a uma sensibilidade aumentada;
  • As nodulações também podem ser sentidas.

Lipedema não tem cura: como lidar com a doença ao longo da vida.

O lipedema não costuma afetar a mulher em uma idade específica, mas existem fases em que existem gatilhos. Os especialistas apontam as fases em que a doença ganha mais ênfase.


  • Puberdade: fase em que a criança vira adolescente e que se inicia a produção hormonal. Muitas meninas também podem ganhar peso, essa é uma fase que já pode desenvolver o lipedema.

  • Gestação: período em que os hormônios ficam diferentes também, aumentam bastante e, com isso, associado ao ganho de peso que a gestação promove, pode piorar o lipedema.

  • Transição menopausal: a transição do climatério para a menopausa. Nessa fase o lipedema pode ter uma piora.

O ginecologista reforça que existem “suspeitas” de que exista influência hormonal, “mas não está claro se é a oscilação hormonal ou se é simplesmente a presença do hormônio que faz com que o lipedema piore”.


Tratamentos para lipedema: o que muda na alimentação e exercícios físicos

O cirurgião vascular Leonardo Stambowsky ressalta que o lipedema é uma doença inflamatória, por este motivo, exige mudanças de hábitos importantes. “Uma educação alimentar e física é fundamental para o controle da inflamação. Além disso, o tratamento não cirúrgico (conservador) incluindo drenagem linfática e uso de meias compressivas associadas, amenizam bastante os sintomas do quadro”, afirma ele.


A alimentação balanceada e a regularidade de exercícios não devem se limitar a um determinado período. “Essa mulher vai precisar dos cuidados ao longo de toda a vida. A mudança no estilo de vida é fundamental para prevenir a evolução da doença. O que ela já conquistou do lipedema, em geral, não melhora muito”, explica Fabiano Serra.


Mas ele afirma que se essa pessoa tiver uma gordura normal associada ao lipedema, essa gordura pode melhorar a partir da mudança de estilo de vida: “Vai dar uma sensação de que houve uma melhora. Às vezes, com o exercício físico, essa mulher começa a se enxergar melhor, melhora a autoestima, libera endorfinas e isso pode contribuir também.”


Qual é o tipo de alimentação ideal para quem tem lipedema?

Uma dieta anti-inflamatória é a melhor aliada. “Se essa mulher pudesse se adaptar a uma dieta, a mediterrânea seria a ideal. E os exercícios físicos, tanto aeróbicos quanto de resistência”, acrescenta o especialista.


Já a oscilação de peso deve ser bastante controlada: “Para quem tem lipedema, isso não é só um fator desencadeador, como também causa grande piora da doença. O ideal é manter um peso adequado.”


Qual o profissional você deve procurar para realizar o diagnóstico.

Os especialistas são unânimes quanto ao melhor caminho para se encontrar as respostas para as dúvidas relacionadas ao diagnóstico da doença. Inicialmente, é importante procurar profissionais que conheçam o lipedema. “Alguém que entenda da doença, pode ser uma equipe interdisciplinar, com endocrinologistas, ginecologistas e vasculares”, aponta o ginecologista.


Segundo ele, o vascular tem uma vantagem sobre os demais especialistas, uma vez que poderá diferenciar lipedema, linfedema e varizes. “Mas eu, como ginecologista, acabo fazendo muitos diagnósticos no meu consultório, pois o principal fator é conhecer a doença”, afirma.


Leonardo Stambowsky recomenda a procura de um angiologista ou cirurgião vascular e orienta sobre clínicas multidisciplinares compostas por cirurgiões vasculares, cirurgiões plásticos e endocrinologistas.


Cirurgia para tratamento do lipedema não é isenta de riscos

A cirurgia para a melhora da qualidade de vida de mulheres que têm lipedema costuma ser recomendado para quem está num estágio mais avançado da doença. Em novembro deste ano, o tratamento através da cirurgia veio à tona após a morte da influenciadora Luana Andrade, de 29 anos, que se submeteu à lipo no joelho por conta do lipedema.


De acordo com o ginecologista do Instituto Lipedema, que conta com uma equipe especializada na doença, a cirurgia é uma forma de tratamento, mas ele pondera: “Em geral, a gente reserva esse tratamento para mulheres que têm um lipedema um pouco mais avançado.”


Algumas mulheres que sofrem com um maior desconforto em relação aos membros inferiores optam por operar. “A decisão da cirurgia parte muito mais da paciente do que do médico, mas é claro que se você tem um lipedema grau 1, que é leve, a orientação inicial é que essas pacientes façam a dieta, os exercícios físicos e que não ganhem peso absurdamente ao longo da vida”, ressalta ele.


“É uma conversa de pesar riscos e benefícios mesmo. A cirurgia não é isenta de riscos, então até que ponto o lipedema incomoda mesmo? É essa pergunta que temos que fazer para o paciente”, acrescenta Fabiano Serra.


Leonardo Stambowsky alerta que a cirurgia é uma “opção terapêutica com resultados promissores” e que é indicada para pacientes com desconforto importante, seja estético ou funcional: “Lembrando que a cirurgia não é curativa e deve ser associada a medidas de controle clínico e acompanhamento a longo prazo.”


Entenda a função da cirurgia de lipedema: ‘É um pouco mais complexa’

De acordo com o ginecologista, o lipedema foi reconhecido como uma doença em janeiro de 2022, com a introdução no CID-11, sendo incluída no livro de classificação internacional de doenças. Ou seja, ainda é uma doença bastante recente, o que torna a cirurgia para o tratamento ainda inacessível para a maioria da população.


“A gente não tem um SUS que cubra a cirurgia de lipedema, os convênios também não fazem parte do rol de cobertura. É algo que provavelmente vai ser discutido no futuro”, acredita o médico.


Como a cirurgia ajuda a amenizar os sintomas da doença?

Segundo Fabiano Serra, parte do tecido doente é retirado durante o procedimento. “Inclusive com as fibroses, e, por isso, há uma diminuição do volume de doença. O tecido gorduroso doente que foi retirado não cresce de novo. Mas isso não impede que outros tecidos gordurosos fiquem doentes com lipedema”, esclarece ele.


Por este motivo, a paciente sente mais conforto. “A sensação de perna cansada, pesada e de dor à pressão podem melhorar com a cirurgia de lipoaspiração desse lipedema”, indica o especialista.


“É uma cirurgia diferente porque esses nódulos de gorduras são bem difíceis de serem aspirados, tem que fazer desentupimento da cânula com frequência, é uma cirurgia um pouco mais complexa”, destaca o médico, afirmando que a cada cirurgia só pode ser retirado até 7% do peso corporal da paciente.


“Nunca vai dar para remover todas as células doentes. Existem pacientes que, por terem um lipedema tão pronunciado, precisam ser submetidas a várias cirurgias”


Leonardo Stambowsky afirma que muita gente consegue conviver com a doença, mas a busca pelo diagnóstico é essencial para dar início a mudanças de hábitos e, desta forma, evitar problemas futuros - o que não significa a necessidade de se submeter a cirurgia.


“O lipedema é pouco diagnosticado, portanto boa parte das pessoas convive com a doença sem sequer saber que tem. Mas dependendo do estágio, muita gente pode ter uma perda importante da qualidade de vida e levar a problemas articulares.”





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