Honestamente, não sei o que se passa na Red Barrels, mas continuo espantado com o quão sádicos e perturbadores são os títulos Outlast. Com certeza, nos seus estúdios terão um ambiente bastante amigável e aberto, dada a continuidade da mesma equipa ao longo dos anos, mas é sempre engraçado imaginar aquelas pessoas tão bem intencionadas a colocar-nos contra uma enchente de monstruosidades assassinas.
Seguindo o tema da Guerra Fria, encontramos cobaias humanas que são recrutadas involuntariamente pela altamente prezada Murkoff Corporation, de forma a testar métodos avançados de lavagem cerebral para obter controlo mental. The Outlast Trials decorre décadas antes do primeiro jogo. Segue-se uma avaliação física e recondicionamento psicológico, e ganhamos um dispositivo de visão nocturna preso à cara, sendo então lançados aos leões, tendo de superar prova após prova até alcançarmos a “liberdade”.
The Outlast Trials traz consigo uma história tão boa quanto eu as sei contar, ou seja, nada. Entramos numa prisão altamente reclusa, sendo apenas transportados para locais fechados com muito pouco espaço aberto, apenas para concluirmos objetivos e regressarmos imediatamente à base.
Ao contrário dos antecessores, escolhemos entre vários testes, que podem ser enfrentados a solo ou com um grupo de até quatro jogadores. Os sustos com pouca luz e a gestão da bateria da tua visão nocturna são tão tensos agora como nos títulos que já nos assombraram no passado. Eventual, e inevitavelmente, vamos dar por nós escondidos numa secretária ou barril, a distância de ouvir a respiração de um assassino louco. Basta carregarmos no botão errado para sairmos sem querer e bem que podemos começar a dar à sola.
Antes de escolhermos o teste, e já passados alguns níveis, podemos optar pela classe que iremos levar, assumindo papéis como healer, recon, tank ou diversion. Temos vários equipamentos com as suas próprias árvores de habilidades que vão sendo melhoradas à medida que completamos os testes. Eu por exemplo, optei pelo o X-Ray, podendo ver temporariamente os inimigos através das paredes, sendo que após uns níveis consegui partilhar essa habilidade com o nosso colega Diogo Lopes. Quem escolhe o Heal Rig pode curar-se a si próprio e aos seus colegas de equipa, enquanto os Stun e Blind rigs são usados para atordoar inimigos e desarmar armadilhas.
Estes testes não são exigentes nos objetivos, mas antes nos obstáculos que nos colocam à frente de cada objetivo. Uma missão pode ser algo tão simples como empurrar alguém numa cadeira, vindo posteriormente os problemas em forma de homicidas que nos obrigam a esgueirar pelas sombras para conseguirmos ligar o gerador e empurrar a cadeira pelo carril elétrico. A repetição das missões é aliviada pela diversidade de espaços onde as mesmas decorrem. Entre feiras, esquadras da polícia ou tribunais, existem vários locais onde nos colocarão à prova, sendo que com amigos a diversão aumenta, colmatando assim a limitação que referi.
Cada ação apresenta-se como um pequeno puzzle, seja ligar geradores ou abrir fechaduras. Isto, acompanhado da pressão constante de podermos ser vistos pelos inimigos desafiou várias vezes os meus batimentos cardíacos. A única “acção” que requer alguma revisão é sem dúvida procurar o raio das chaves geradas aleatoriamente, e escondidas em corpos ao longo do teste Kill the Snitch. Passamos horas à procura das chaves, algo que não foi é agradável.
Para alcançarmos o estatuto Reborn teremos de concluir uma missão a solo (que por acaso é a mais difícil), passando-se na Mansão utilizada no tutorial. Após terminarmos esta missão respiramos de alívio pois completámos o jogo, certo? Errado.
Renascer desbloqueia o programa Project X, que é exatamente igual, mas com inimigos mais fortes, mais armadilhas e mais portas bloqueadas. Para os insanos que decidirem repetir este feito três vezes, que recompensam com três diferentes finais, podem ser ainda mais insanos e tentar completar as missões Project Ultra. Se lerem o início deste parágrafo percebem o que é que este modo desbloqueia… Creio que a progressão foi preguiçosa, apoiando-se na repetição mal-lavada para justificar mais horas de jogo, num jogo em que não havia qualquer necessidade de recorrer a estes métodos.
Passando a parte infeliz à frente, o design dos níveis está bastante bem conseguido, sendo estes quase labirínticos, sempre apoiados na ténue linha que os empurra para serem classificados como frustrantes. Estão tão bem desenhados que teremos sempre bastantes opções sobre como abordar as missões. Esta bela arquitetura é acompanhada dos cenários mais hediondos e macabros que já encontrei, com bastantes manequins e/ou cadáveres para complementarem a decoração com um toque pessoal.
Em termos visuais, Outlast Trials, como já referi, apresenta visuais brutescos, acompanhados de cenários completamente macabros. Adicionalmente, a arquitectura dos níveis é propositadamente reduzida, de forma a potenciar uma experiência claustrofóbica. De mão dada com os visuais, encontramos uma música ritmada a pânico e tensão. O design de som é bastante competente, sendo não só cirúrgico na intensidade, como no timing, criando ansiedade e urgência no perigo que nos rodeia.
The Outlast Trials é um título paradoxal, pois ao mesmo tempo que nos horrifica, também nos cativa. Cada segundo passado nas instalações Murkoff transpira ansiedade, deixando-nos desconfiados de tudo e todos.
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