A proposta de Chantal Montellier em "Bruxas, Minhas Irmãs".



A proposta de
Chantal Montellier em Bruxas, Minhas Irmãs é muito clara. Uma associação direta entre a perseguida figura da bruxa e a história de mulheres que ousaram transgredir, mesmo que minimamente, o modelo patriarcal. Essa temática tem uma ponte com a própria carreira da quadrinista e seu papel notável na abordagem de temas feministas e no fomento da produção de autoras de HQs na França.


Ao longo de várias histórias curtas, publicadas originalmente na revista A Suivre, na década de 1980, Chantal traça paralelos entre as pecaminosas bruxas e personagens históricas (como Camille Claudel e Tituba) ou ficcionais. Centrados principalmente na estigmatização de uma sexualidade feminina livre, nas relações de poder, na opressão e culpabilização das mulheres, esses contos funcionam individualmente, mas se tornam pouco inventivos, ou até desarticulados, quando lidos em conjunto. Ao final do álbum, a sensação de uma repetição de abordagens é inevitável, apesar de um assunto tão amplo.


De Chantal Montellier
80 páginas
Veneta | 2023
Tradução: Maria Clara Carneiro


Duas histórias se destacam, Eva Desloups e De Um Diabo a Outro, que são justamente as de abertura e encerramento da HQ, um pouco mais longas que as demais. Esta última foi produzida em 2021, durante a pandemia, e acrescenta aos temas já vistos nas outras histórias uma visão acerca da xenofobia e do racismo.

Graficamente, a HQ tem pontos altos e baixos, com a elaboração de painéis que mesclam o imaginário artístico de séculos sobre as bruxas. Demônios, serpentes, gatos e bodes se mesclam às personagens das histórias, em composições criativas. Porém, o tratamento gráfico das imagens (provavelmente devido à recuperação de arquivos antigos) oscila bastante. Algumas páginas e às vezes até quadros específicos parecem pixelizados, como em baixa resolução.

Publicado pela Veneta, Bruxas, Minhas Irmãs propôs, décadas atrás, uma discussão que segue importante e atual, ou melhor, que virou moda. A associação de mulheres livres com bruxas se tornou pop. Mesmo assim, ainda é uma pena que uma temática tão rica tenha se tornado um tanto repetitiva na execução desta HQ.




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