‘Deadpool e Wolverine’: Marvel aceita ‘derrota’, mas não desiste — e isso faz valer o ingresso do cinema.
Reconquistando o cinema
O mundo dos super-heróis, em especial o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), anda em baixa. Depois de “Vingadores: Ultimato” (2019), que fez história nos cinemas com arrecadação de US$ 2,8 milhões globais e se tornou a segunda maior bilheteria do planeta, atrás somente de “Avatar” (2009), os demais filmes do MCU — e seu conceito de multiverso — vieram em uma avalanche de decadência. Em 2023, o declínio começou com “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” (US$ 476 milhões), teve um significativo respiro com “Guardiões da Galáxia Volume 3” (US$ 846 milhões) e seguiu ladeira abaixo com “As Marvels”, que não se pagou. O filme teve o robusto orçamento de US$ 274 milhões e arrecadou somente US$ 206 milhões.
Com a máquina de filmes disparando sem resultado, a empresa viu seu universo cinematográfico começar a ruir. A indústria como um todo se fez a pergunta de um milhão de dólares: será que a era dos super-heróis realmente chegou ao fim? Ou será que o “formato Marvel” só precisava mesmo de alguns ajustes?
É essa pergunta que a nova produção do estúdio, “Deadpool & Wolverine”, estrelada por dois dos maiores nomes da Marvel nos últimos 20 anos, Ryan Reynolds e Hugh Jackman, quer responder nos próximos meses. O filme de alto orçamento (US$ 300 milhões) chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25, como o primeiro do estúdio para maiores de 18 anos e bem mais ousado do que qualquer outro longa do MCU — até mesmo para os padrões do “Deadpool”, personagem mais brincalhão e “sem limites” da franquia.
“Eu amo o fato de que pudemos fazer um filme no MCU que não é um comercial para um próximo filme da Marvel”, disse Ryan Reynolds em entrevista exclusiva à EXAME. “Não estamos dizendo ‘bem, agora economize seu dinheiro suado para a próxima coisa, porque não vamos terminar a história até que você veja isso, e teremos vários próximos lançamentos’. Chega disso, nós fizemos um filme único do Deadpool e Wolverine para que os fãs curtam, se divirtam, dêem gargalhadas e é isso”.
Reynolds e Hugh Jackman, que retorna ao papel de Wolverine depois de seis anos, passaram alguns dias na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, para uma turnê mundial de promoção do filme.
Metalinguístico na medida certa
A nova produção é o terceiro filme da franquia de “Deadpool”, cujos primeiros filmes foram produzidos pela finada Fox Films. Em 2019, quando a Disney finalizou a aquisição da 21st Century Fox pelo valor de US$ 71 bilhões, o super-herói passou a fazer parte do catálogo da Marvel Studios e precisou ser integrado formalmente ao MCU.
A chegada do terceiro filme, portanto, veio nesse momento mais baixo da Marvel como um alívio: “Deadpool” (2016) arrecadou US$ 783 milhões em bilheteria e sua sequência, “Deadpool 2”, faturou US$ 786 milhões. E nenhum deles tinha o Wolverine, personagem de maior sucesso dos “X-Men”.
A última produção com Jackman no papel foi “Logan” (2017), que deu ao Wolverine um final mais do que digno e arrastou uma multidão chorosa de fãs ao cinema para se despedir do personagem. O filme arrecadou US$ 619 milhões em bilheteria e se tornou o primeiro título de super-herói a conquistar uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado — mas perdeu a estatueta para “Me Chame Pelo Seu Nome”, escrito por Luca Duadagnino, James Ivory e Walter Fasano.
“Demorei uns quatro ou cinco anos para querer voltar para o papel, sendo sincero, ainda mais depois do final de ‘Logan’ e de toda a minha trajetória como o personagem”, explicou Jackman à EXAME. “Eu só voltei porque acreditei nesse projeto justamente pela fase toda dos super-heróis agora e por ter Ryan Reynolds como esse Deadpool divertido e realmente livre para as escolhas que ele fez no filme”.
Reynolds não só é o protagonista do filme ao lado de Jackman, como também assina como roteirista e produtor de um dos títulos mais ousados da Marvel até o momento. A classificação indicativa para maiores de 18 anos não vem à toa: o longa faz uma repetitiva menção ao uso de drogas e tem em uma de suas primeiras cenas um Deadpool combatendo seus inimigos com os ossos do corpo exumado de Logan, feito de adamantium — metal mais precioso e resistente do universo da Marvel. E isso é só a ponta do iceberg dentro de uma produção metalinguística.
“Deadpool & Wolverine”, diferente dos demais filmes da Marvel, está mais para uma conversa com o fã do que para um filme propriamente dito. Reynolds quebra a “quarta parede” e inicia um diálogo com o público recheado de piadas ácidas, que vão desde a compra da Fox pela Disney até mesmo à fase atual do MCU, no qual o próprio personagem reconhece que o “barco está afundando”.
“Muitas pessoas têm uma falsa impressão de que eu faço muito improviso. Eu adoro improviso, faço sim, mas eu escrevo cinco piadas alternativas para cada piada no filme. A coisa sobre um filme do Deadpool, particularmente este filme do Deadpool, é que você nunca para de escrever”, explicou Ryan sobre a escolha e liberdade para escrever as piadas do filme. “Kevin Feige, Marvel e Disney só me disseram ‘vá, apenas faça isso, mas faça bem autêntico’. Me orgulho de ter feito algo engraçado, mas também muito responsável, o que não acontece o tempo todo em filmes de quadrinhos. Juro que estou te dando o máximo da minha sinceridade com você ao dizer isso: só teve uma piada que fiz e que não me deixaram mesmo manter no filme, o que partiu meu coração para sempre. E não posso falar qual é, porque senão, já sabe, né?”, brincou ele entre risos.
Mesmo sem o objetivo de tornar o filme em um “comercial” para os próximos, Ryan ressaltou que cada uma das cenas dispostas, assim como as piadas, foram pensadas de forma muito meticulosa, mas livre. “Eu adoro isso, é intencional. Eu gosto de um filme que é cheio de detalhes e pensamento, e é assim que o processo de escrita nos levou. É engraçado para caramba, mas é sério também, é nostálgico, é divertido. Isso me faz evoluir como ator e roteirista, sem contar que é um privilégio fazer um filme desse com o Hugh, era meu sonho!”.
Pressão de bilheteria e ascensão com orçamento elevado
Com a pressão da bilheteria pelo estúdio, que precisa ter uma vitória nos cinemas, e também do altíssimo orçamento de US$ 300 milhões — quase US$ 100 milhões só para o cachê de Hugh Jackman —, Reynolds ressaltou que a escrita do filme foi a mais desafiadora do que qualquer outra produção que já tenha participado.
“Kevin Feige me disse ‘eu preciso que você faça cada cena ser excelente’, o que botou uma pressão absurda. Quando Hugh aceitou voltar, nós elevamos o padrão de qualidade lá para o teto e, quando eu disse que já tínhamos o filme perfeito, houve um pedido para torná-lo 20% ainda melhor, mas também me deu total liberdade para escrever as piadas ali dentro que são mesmo bem ousadas”.
A projeção é que “Deadpool & Wolverine” arrecade pelo menos US$ 360 milhões no primeiro fim de semana em cartaz, segundo previsão do Deadline. A maior bilheteria do ano segue com “Divertida Mente 2”, que já arrecadou US$ 1,46 bilhão em todo o mundo e segue disponível nos cinemas.
Mas afinal, qual é o futuro dos super-heróis no cinema?
Ao fim da entrevista, os atores refletiram sobre qual será o futuro dos filmes de super-heróis no cinema, sobretudo diante dessa oscilação de bilheteria e, consequentemente, de interesse do público.
“O futuro para mim como ator desses filmes é sentir que estou fazendo algo porque tudo no meu DNA está dizendo ‘corra, faça isso, você tem que fazer isso’, porque faz sentido voltar com esse personagem, porque eu acredito que dá para tirar ainda mais do Logan. E quero me sentir tão investido, tão energizado e tão orgulhoso quanto me sinto agora daqui para frente, quero me divertir de verdade”, argumentou Jackman em entrevista à EXAME.
Reynolds, por outro lado, quer garantir que os filmes sejam divertidos, sem cobranças, sem amarras, sem pressões extravagantes e “caixinhas” para posicioná-los como algo maior do que eles deveriam ser.
“A vida é muito difícil lá fora para as pessoas e nós fizemos um filme no qual elas podem ir ao cinema, podem sentar e se banhar nessa essência coletiva daquela experiência. Podem rir até se acabarem, podem chorar se quiserem. Eu entendo de verdade que elas pagaram seu dinheiro suado para ver o filme que escrevi e eu levo isso muito a sério. Quero entregar o que prometi: um filme super divertido e engraçado, e é isso que tem que ser, mesmo”, refletiu ele.
Quem está no elenco de 'Deadpool & Wolverine'?
Filme é protagonizado por Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin, Morena Baccarin, Rob Delaney, Leslie Uggams, Karan Soni e Matthew Macfadyen. Reynolds assina também como produtor e roteirista.
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