No Chile, Lula pede transparência e respeito à soberania popular na eleição da Venezuela.

 


Boric já se manifestou, nos últimos dias, contra o resultado. Lula tem preferido exigir a apresentação das atas antes de dizer se a eleição de Maduro foi fraudada ou legítima.


Em pronunciamento em Santiago, capital do Chile, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu transparência no processo eleitoral da Venezuela. O presidente chileno, Gabriel Boric, optou por não comentar a contestada eleição presidencial da Venezuela, principal assunto geopolítico no continente no momento.



O atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no poder desde 2013, foi considerado reeleito pelos organismos oficiais — na prática, controlados por ele, com quase 52% dos votos. Mas a oposição e entidades internacionais apontam que houve fraude no pleito.

As atas eleitorais — boletins com os votos das urnas — ainda não foram apresentadas, mas deveriam ter sido.


Boric já se manifestou, nos últimos dias, contra o resultado. Lula tem preferido exigir a apresentação das atas antes de dizer se a eleição de Maduro foi fraudada ou legítima.
"Expus [em conversa com Boric] as iniciativas que tenho empreendido com os presidentes Gustavo Petro (Colômbia) e Lopez Obrador (México) em relação a processo político na Venezuela. O respeito pela tolerância, o respeito pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados. O compromisso com a paz é que nos leva a conclamar as partes aos diálogos e promover o entendimento entre governo e oposição", afirmou Lula no pronunciamento à imprensa após conversa privada com Boric.
Lula disse ainda que, na politica externa, as partes envolvidas em uma negociação precisam entender suas diferenças para que se chegue a um consenso.



"No meu partido chegamos a ter 19 tendências, que pensavam diferente. Toda reunião a gente ia lá e fazia um trabalho para que a gente conseguisse aprovar uma posição única. Na política externa é a mesma coisa. Cada país tem a sua cultura, cada país tem os seus interesses, cada país tem as suas nuances políticas. A gente não pode querer que todo mundo fale a mesma coisa, que pense a mesma coisa. Nós não somos iguais. Nós somos diferentes, isso é extraordinário. A diferença permita com que a gente procure encontrar as nossas similaridades", refletiu o presidente.



Lula incentivou a integração entre os países da América do Sul, processo que ele defende desde o primeiro mandato presidencial.
"Não podemos continuar de costas uns para os outros", disse.
O processo de integração ganhou um novo empecilho com a suspeita de fraude na eleição venezuelana. Boric, por exemplo, não reconheceu a vitória de Maduro e teve o corpo diplomático expulso pelo regime chavista.


Boric evitou o caso

Ao fazer seu pronunciamento, antes de Lula, Boric optou por ressaltar as alianças comerciais entre Brasil e Chile e oportunidades econômicas que os dois países podem explorar para desenvolver suas sociedades. Ele não quis falar de Venezuela.


"Essa visita é sobre a relação entre Chile e Brasil. Sei que poderá haver perguntas sobre outros temas, em particular em relação à Venezuela. Vou me referir a isso amanhã à tarde", afirmou Boric em sua fala.


Relação com o Chile

Lula destacou a importância da relação do Brasil com o Chile e classificou como "triste mácula" o apoio da ditadura militar brasileira ao golpe militar que encerrou o governo de Salvador Allende em 1973.


Lula reforçou o desejo de executar obras que cruzem o continente para escoar produtos até portos nos oceanos Atlântico e Pacífico. Boric também se mostrou favorável aos investimentos em infraestrutura.


Outro ponto de convergência citado por Lula foi a necessidade de cooperação para enfrentar desastres climáticos, a exemplo das recentes cheias no Rio Grande do Sul.


Acordos

Parte da comitiva de Lula, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assinou, na ocasião, uma carta de intenções com o governo chileno para cooperação no setor de mineração.


A carta prevê o estímulo dos dois países à exploração e ao desenvolvimento de minerais estratégicos para a transição energética.


Além disso, Silveira também assinou uma declaração conjunta com o Ministério de Energia do Chile, que cria um grupo de trabalho sobre combustíveis sustentáveis de aviação. No grupo, os países vão compartilhar conhecimento técnico e práticas regulatórias.


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